sábado, 26 de maio de 2012

Apesar...


Choveu na cidade... Apesar da incerteza de uma tarde com tempo firme, saio. Bairro não lindo, longe disso. Escolho a estreita rua que beira o rio (triste rio, que se imprensa entre casas, lixo e casas).

Apesar dos tempos modernos e tecnologias 3 D a rua não tem asfalto... A rua é barro. É lama. Apesar de outras ruas, escolho essa. Quero ir por ela. E não escolhi sozinho, muita gente como eu se equilibra em meio às poças.

Apesar de tudo, uma senhora encosta-se ao muro para ver a tarde caindo... Apesar de tudo, com pés sujos de lama, uma mãe vem ouvindo o filho cheio de histórias da escola... Apesar de tudo, um cabrito devora uma moita de capim à beira do triste rio... Apesar de tudo, duas amigas, provavelmente voltando do trabalho, comentam o que precisam cozinhar para seus maridos e filhos quando chegarem às suas casas... Apesar de tudo, e confesso que vi primeiro o reflexo na água acumulada da chuva, um casal caminha de mãos dadas – “cuidado, aí escorrega!”... Outra criança passa de bicicleta... O carteiro grita “correeeeios!”... A senhora cansada, uma mão nas costas doídas, a outra acenando e com a boca metade sorriso e metade palavras “boa tarde, Carminha!”...

Sempre vai haver poesia... Apesar de tudo! Sempre vai haver poesia... Apesar de tudo!

domingo, 21 de agosto de 2011

Fim de um fim de semana...


São oito horas da noite desse domingo que começou cedo para mim. Cinco da manhã meu celular disparou a tocar. Não tinha nem como eu ficar com raiva dele, já que fui eu mesmo quem o programou para me despertar do feliz e breve sono. Escalado para trabalhar no domingo e às sete da manhã? Mau gosto, mau gosto! Mas tudo tem sua compensação e nesse caso a compensação começou com minha mãe se certificando de que eu não perderia a hora e se oferecendo para passar minha roupa. Banho (gelado) pus a calça e camiseta, comi (duas bolachas é o mesmo que comer?) e fui. Outra compensação positiva foi andar de metrô no domingo. Nem precisei amaldiçoar toda a humanidade... O metrô estava livre, lugares vagos... Poderia até escolher onde sentar! Estações e trilhos a fora, segui meu caminho. Preciso também dizer que o centro do Recife sem os recifenses é uma delícia... Definitivamente o que acaba com essa cidade são as milhares de pessoas que por ela passam todos os dias despejando o que há de pior pelas ruas e nos outros: lixo, gritos, empurrões, “furações” de fila... Mas no domingo os milhões estão dormindo ou na praia... Restam apenas uns dez, vinte, no máximo trinta pessoas nas ruas... E Recife fica linda (lindo, linda... Por aqui nunca saberemos o que dizer ao certo) e agradece com uma brisa marítima maravilhosa! Encontrar pessoas amadas no trabalho também é uma dádiva. Trabalhar com amigos nem chega a ser trabalho, é prazer remunerado. Depois da labuta uma visita breve na livraria Cultura para escolher meu presente que compraria para mim mesmo. Presente comprado, passeio a pé até a parada de ônibus (devidamente acompanhado por uma amiga da empresa– não te disse, que amigos no trabalho são pura alegria?).Ônibus vazio, metrô vazio, ônibus vazio. Cheguei em casa. Cafezinho, pois a fome gritava, banho ao som dos meus novos discos (sim, no plural, essa compulsão de sempre comprar de dois discos para cima cada vez que vou a uma loja do gênero é algo sem cura). Resolvi também me barbear para começar a semana (que na verdade já começou para mim hoje) de cara limpa... Já ao som das últimas faixas do Frank (Amy Winehouse) e dando as últimas “espumadas” e “laminadas” na barba me dei conta de como estava sendo prazeroso esse domingo, mesmo cheio de compromissos desde cedo. Mesmo estando cansado. Mesmo não tendo feito nada da faculdade. Mesmo sabendo que a semana será cheínha de cobranças pesadas e de metas metas metas metas metas metas meeeetaaaaaaaaaaasssss! Esse momento de perceber o prazer do presente fez toda a diferença! São raros esses “insights” felizes... Mas quando vêm eu sinto a necessidade de correr (como corri), abrir uma garrafa de vinho (como abri) e escrever (como estou escrevendo agora).

As alegrias por serem tão mais raras devem ser sempre comemoradas, celebradas! Um brinde!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Mosaico... Tudo num só! Num só há tudo!


Eu sou da arte. Ela é quem me põe pra andar. Corro atrás dos últimos discos, livros, dos primeiros também. Se a canção citou “cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores”, lá vou eu atrás saber quem são estes benditos. E descubro, me redescubro, descubro um mundo por essas cores tão fortes antes desconhecidas. E quando a letra da Toller diz “um amor Grande Hotel” e o resto do mundo passa adiante para o próximo verso, eu fico com a interrogação até descobrir o belíssimo, enigmático, perfeito, inquietante filme que foi pano de fundo desse amor, Morte em Veneza. Lá está o Grande Hotel e a música ganha outros sentidos.

Se o Catedral faz um disco com letras baseadas em textos do Rubem Alves lá vou eu sedento dessa água. E reconheço meu velhinho predileto e tudo em mim muda de lugar, se desorganiza para se organizar depois. E quando o próprio Rubem (sou íntimo, já o abracei umas cinco vezes!) me traz visões de 2001 Uma Odisseia no Espaço? Ué, o que é isto? Vamos lá então... E descubro Kubrick, com seu Laranja Mecânica. Minha cabeça cai, meus braços ficam sem forças e as pernas caminham por onde não há caminho. Mas daí Bethânia me traz Lispector, e o caos dela junto ao que se havia feito antes em mim acabam me pondo nos trilhos novamente.

Sou assim. Na verdade somos todos assim. Uma colagem de livros, vídeos e discos.

Uma hora sendo traduzidos, outra hora sendo compostos.

Por falar nisso, uma música que retrata bem uma determinada área de minha vida (de tantas coisas que estão acontecendo) seria a música de número 10 do belíssimo disco da Vanessa da Mata “Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias”, a engraçada, porém objetiva, “Moro Longe”. Segue abaixo para apreciação e quem sabe ela te traduza também.


Moro Longe
Vanessa da Mata

Você me chama como quem diz: Logo Ali
Saindo agora eu chego só três horas lá
Três conduções, olhar um sorvete e não tomar
Levar um lanche e só chegar na madrugada
Desbravamente, expedição, confusão
Só um beijinho, sinto muito não vai ser bom
Um copo d'água, um cafuné pra começar
Há alguma hora, se Deus quiser, eu vou chegar

Quero pão novo, pouca conversa, uma casa aberta
Um ótimo vinho
Flores do campo, banho quentinho
Uma sobremesa, um atrevimento
Dedicação, muito carinho
Derretimentos pra compensar, pra compensar
Porque eu moro longe no fim do mundo
Se eu for ai, faça valer à pena
Porque moro longe, lá onde ninguém vai
Se eu for ai, faça valer à pena, faça valer à pena

Quero pão novo, pouca conversa, uma casa aberta
Um ótimo vinho
Flores do campo, banho quentinho
Uma sobremesa, um atrevimento
Dedicação, muito carinho
Derretimentos pra compensar, pra compensar
Porque moro longe no fim do mundo
Se eu for ai, faça valer à pena
Porque moro longe, onde ninguém vai
Se eu for ai, faça valer à pena, valer à pena, valer à pena, faça valer à pena...

PS. Recado dado! rsrs

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

De volta... ao blog e às aulas!


Olá!

Faz muito tempo, eu sei...

Mas sabe o que é? Não sou e nunca fui dado a compromissos, horários, agendas... A gente já vive tão delimitado que qualquer sinal de “eu tenho que” já me apavora.

Sei que parece bobagem, mas a partir do momento que eu determinei datas para escrever neste blog (que criei única e exclusivamente para dar vazão a meu gosto pela escrita e trocar ideias) houve uma trava de assuntos e uma exigência descomunal com o texto. Tudo o que escrevia eu mesmo reprovava... Loucura, bobagem... Eu sei, eu sei, eu sei!

Mas, conversei aqui comigo mesmo e acertamos que não há compromissos com o blog. Ele será meu brinquedo, como foi nos primeiros textos publicados.

E eu sou tão bobo, que eu mesmo caí nesta e cá estou.

Na verdade, quis muito despertar este blog exatamente hoje, porque estou iniciando nesta data meu curso de Letras. Um sonho, que foi tão guardado, esquecido, protelado por diversas pressões (naturais ou não) às quais dei ouvido (por covardia ou por necessidade).

Não foi sozinho que cheguei aqui e nem é sozinho que quero seguir. Então, meus amigos, obrigado pela torcida, mas ainda precisarei de vocês até o fim. Há uma longa jornada, que farei o possível para que seja feliz! Pelo menos tem sido até agora!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vou mais além...


Semana cheia de dúvidas e decepções... Precisei de provas para saber quem sou... Para saber do que sou capaz! Logo abaixo, as evidências de que estou vivo e de que sempre estive.


Resistir a uma gestação

Nascer

Andar

Falar


Enfrentar o primeiro dia de aula

Enfrentar o segundo dia de aula

Continuar enfrentando os demais dias de aula

Aprender andar de bicicleta aos 5 anos

A coragem para escrever a primeira carta de amor

Vencer o medo do primeiro beijo

Superar a primeira paixão não correspondida

Não ser um atleta e ter que ser bom n’outras coisas

A conquista do primeiro trabalho aos 12 anos


Ir numa “tirolesa” aos 13 anos

Assumir publicamente que jamais iria novamente em nenhuma tirolesa

Superar a segunda paixão não correspondida

Superar o cansaço do trabalho ao dia para estudar à noite aos 14 anos

Superar a terceira paixão não correspondida

Enfrentar um colégio interno por 3 anos, sabendo dos prazeres e das dores

Enfrentar e superar a separação dos amigos feitos ao longo destes 3 anos de convivência intensa

Superar a quarta paixão não correspondida


Viajar de ônibus sozinho para o Rio Grande do Sul em férias e me apaixonar loucamente pelas Araucárias

Trabalhar no meio de um monte de manés que só falavam em Teste de Fidelidade do João Kleber e Sport X Santa Cruz e sobreviver lá, por quase 2 anos

Superar uma depressão

Superar a segunda depressão

Criar coragem para “ser eu mesmo” para alguns poucos amigos

Superar a quinta paixão não correspondida

Superar a terceira depressão

Comunicar aos amigos do peito de Recife que a convivência com eles seria interrompida

Criar coragem para aventurar e ir morar longe, no Sul do Brasil


Superar a falta do ninho familiar e dos Coqueiros colossais

A coragem para atravessar as fronteiras da cultura e espiar mais de perto a Serra Gaúcha

Fazer grandes amizades no trabalho

Perder o medo de andar de bicicleta na rua

Fazer grandes amizades através de grandes amizades do trabalho

Apaixonar-me, sem querer nem perceber, por alguém que era tão o avesso de mim

Permitir-me viver uma paixão com potencial para me fazer pleno e de me destruir

Superar o fim do ensaio do meu único amor vivido

Superar a uma demissão e todo o seu significado

Jurar que jamais faria laços fortes com colegas de trabalho


Ir morar sozinho, sozinho...

Batalhar e conseguir trabalhar com novas pessoas

Ser feliz e entregar meu coração aos amigos do novo trabalho, sem medo, desfazendo assim o juramento do “jamais...”

Respirar fundo e decidir a difícil/fácil/triste/feliz volta ao ninho em Pernambuco

Comunicar aos meus amigos do peito de Caxias do Sul que a convivência com eles seria interrompida

Comprar passagem

Juntar e arrumar as coisas


Dizer “até um dia” para meus amigos do Sul


Dizer “até um dia” para a Nati... (Como estará meu anjinho?)


Ter forças para entrar no ônibus com destino a Porto Alegre e no avião de Porto Alegre ao Recife

Coragem para batalhar um novo trabalho e uma outra nova vida em Pernambuco


Bem, se eu vivi tudo isso aí, eu sou capaz de ir além do que eu possa imaginar! Pois quem tem em seu currículo algo assim, tem na veia o melhor dos talentos e a melhor das coragens: o talento pra viver e a coragem de arriscar. E vou arriscar, SEMPRE que achar que devo!


Afinal, os riscos que corri, no fim de tudo, me trouxeram coisas e pessoas que VALEM cada medo que eu tive do perigo.

domingo, 18 de abril de 2010

Correndo atrás do prejuízo!


Havia um tempo em que eu emagrecia só em dar umas corridinhas... Mas, como sabem, perto dos trinta o nosso metabolismo não é mais o mesmo. A gente come um grama de amendoim e aquilo se desdobra em um quilo. A gente corre um metro e as pernas parecem que correram a São Silvestre. Se a gente insiste e corre míseros cem metros dá-se início a um ataque cardíaco.


Na semana passada analisei bem a situação: vinte e nove anos, a falta de beleza óbvia, um super mega sobrepeso, manequins oito números acima do que eu vestia aos vinte anos, o fato de ser rejeitado em todos os chats de bate-papo assim que assumo o crime de pesar três dígitos... Não foi o suficiente. Faltava um juiz, o mais cruel. O espelho. E ele sentenciou: GORDO! Ouvi sua dura resposta e decidi: de hoje não pode passar!

E fui. Caminhando pela calçada. Os passos lentos. Na verdade, mais lentos do que os de costume. Digamos que eu estava quase parando de tão lento. Mas segui. Continuei meu percurso. Parei em frente ao estabelecimento suado pelo medo e pelos trinta graus de Recife... Fiquei olhando para dentro dele, procurando uma confirmação e coragem para dar sequência ao plano. Na minha cabeça só ouvia as vozes dizendo “rapaz, o que você vai fazer aí dentro? É dinheiro perdido... Já reparou que você será o mais gordinho de todos? Você levará no mínimo cinco anos para chegar ao ‘shape’ deles!”. Mas, respirei fundo, “aprumei” as pernas cambaleantes e entrei. Sim... Entrei na academia de ginástica e musculação. Na mesma ocasião fiz a bendita matrícula e avaliação física.

No outro dia lá estava eu. Foi-me dada uma sequência - vergonhosa de tão leve - de exercícios: esteira, bicicleta e steps. “Você tem que começar devagar!”, disse a minha instrutora. Mas mesmo assim, o que ela estipulou como “devagar” deve ter elevado minha pressão arterial uns quinze pontos, pois saí de lá no primeiro dia cambaleante quase pedindo socorro às pessoas nas ruas.

Porém, confesso: mesmo olhando nas dezenas de espelhos espalhados pelas paredes e me vendo todo suado e pálido, achei muito divertido ficar ali em meio àquelas máquinas. E mais, não sei se era o fato de estar passando mal com os exercícios “pesados” ou se pura esperança mesmo, mas volta e meia vislumbrava um novo Kennedy nos espelhos, com trinta quilos a menos e músculos tonificados, entrando num manequim tamanho quarenta.

Amanhã cedinho estarei lá, com minha garrafinha de água, minha toalha e meu sonho de emagrecer. Pois tudo o que quero, é que em Agosto, quando completar os temidos trinta anos, eu possa: estar namorando, sair bem na foto e dançar pelo menos cinco músicas sem ser socorrido por insuficiência cardiorespiratória.

Se sobreviver, voltarei... Mais leve e mais rápido no próximo post. Prometo!

domingo, 4 de abril de 2010

Num mundo de tagarelas, para que dizer?


O mundo não precisa de minha opinião para seguir girando, explodindo, clareando, azulando, sendo uma grande bola pendurada por aí no universo. Ele faz isso perfeitamente bem sem mim.

Meus conhecidos e chegados podem muito bem viver sem saber o que se passa nessa minha cabeça imensa e de pensamentos farpados.

Meus inimigos... Sou tão insignificante que nem os tenho para me gritarem “medíocre”!

Se é assim, por que escrever? Para que dizer?

Não é para os outros...

Quer dizer, é...

É e não é!

Pensemos num pescador... Ele acorda cedo, toma um café e vai sentar-se a beira de um rio tranquilo, preparando sereno o que lançará no anzol... O peixe virá... Rodeará a isca, desconfiado, e uma vez achando que aquilo é bom, abocanhará. Pronto. O pescador sabe que terá alimento em casa.

A razão que o move, move a mim também.

Escrevo para ter alimento. E da mesma forma que o pescador, não quero mostrar ao mundo o quão habilidoso eu sou na arte da pesca, mas sim, saber que mesmo se tiver pescado apenas um peixe o caminho da volta será mais feliz!


Kennedy Jeremias (kennedyjeremias@hotmail.com)